Comentários: JBS 2T17

Após a eclosão do "Joesley Day" e as revelações bombásticas da delação da controladora J&F, a JBS (JBSS3) conseguiu, mesmo assim, reportar um resultado muito bom. Reportou 310M de lucro, mesmo com o real bastante valorizado, que prejudica a rentabilidade da empresa, e ainda conseguiu aumentar as margens bruta e EBITDA, impulsionada pelos negócios no exterior, que correspondem a 75% da receita.

Reflexos da Delação Premiada


Após esse resultado, cheguei à conclusão de que a grande maioria das notícias veiculadas pela mídia eram histeria. O reflexo das vendas das marcas da JBS no exterior foi nulo e mesmo no Brasil não foi muito grande, a maior parte das pessoas tem memória curta e o povo não entende que a JBS é uma Holding que controla várias marcas. A estratégia da JBS no Brasil está sendo substituir as marcas Friboi e JBS por outras marcas ou mesmo criar novas marcas.

Como eu já disse no meu último post sobre a JBS, o Joesley é, em minha opinião, um anti-herói e não um vilão. O Brasil tornou-se um país extremamente burocratizado e regulado e ficou praticamente impossível desenvolver grandes negócios sem apoio do governo. A JBS fazia muitas doações legais para todos os partidos para construir um lobby e seus controladores também foram extorquidos por políticos para realizarem operações ilegais. Considero heroica a ação do Joesley de gravar o Temer e expor os políticos que o extorquíram, apesar do Temer ter continuado no governo, pelo menos o que restava da imagem do Aécio foi para sempre enterrado.

O brasileiro convencional não sabe explicar o que aconteceu com a JBS, ele só sabe que "ela é corrupta". É muito complexo saber todo o enredo de favores e extorsões que levaram à situação atual. Ainda, a maioria dos brasileiros nunca vai pagar mais caro em um produto equivalente somente para boicotar a JBS, essa maioria, inclusive, nem sabe quais são as marcas da JBS.
Tudo segue como dantes no quartel de Abrantes
O maior perigo para a JBS é o desenterro da aquisição da Bertin (explicado também no último post), que, ao que parece, foi contido. Até mesmo porque já passaram cerca de dez anos desde o fato e a cobrança de impostos tem prescrição de cinco anos. Parece-me que as manchetes que diziam que a JBS quebraria porque teria que pagar 1 trilhão em impostos, continuarão a ser somente manchetes.

"A Marfrig divulgou que registrou prejuízo de R$ 157 milhões no 2º trimestre e a Minerva perdas de R$ 55,6 milhões. Na semana passada, a BRF reportou prejuízo de R$ 167,3 milhões no período."

Todas as concorrentes da JBS tiveram prejuízos no trimestre, é impressionante como a JBS conseguiu manter a lucratividade mesmo em um cenário adverso. Também é impressionante como a BRF, fabricante de produtos de maior valor agregado, consegue ter prejuízo. Parece que, por onde o Abílio Diniz passa, as coisas começam a dar errado.

O Resultado propriamente dito


O resultado operacional foi excelente, a JBS é uma empresa que trabalha em um setor de grande receita e margens baixas e, mesmo assim, conseguiu aumentar a margem EBITDA de 6,6% para 9%. Tudo isso em meio aos abalos da operação de autossabotagem Carne Fraca e ao boycott pós-delação. O resultado financeiro foi bastante prejudicado por causa do prejuízo de 1,1B atribuído pela utilização de Hedge cambial, reflexo da desvalorização do dólar em relação ao real.
As divisões Seara e JBS Mercosul tiveram a rentabilidade levemente prejudicada por causa dos eventos internos que impactaram a empresa, mas as divisões internacionais e a subsidiária Pilgrim's Pride Corporation, tiveram resultados excelentes, que compensaram as perdas internas.
A dívida líquida subiu um pouco por causa da aquisição da Plumrose nos EUA e do resultado financeiro, a partir do próximo trimestre, espera-se uma redução significativa da dívida líquida por causa da venda de ativos menos rentáveis que está ocorrendo no trimestre corrente e que faz parte do plano de renegociação da dívida.

Conclusão


É importante frisar que o resultado entregue foi o não auditado, a empresa está esperando que os trabalhos de auditoria terminem para que ela possa entregar o resultado definitivo. Eu acho que as mudanças para o resultado auditado não devem ser significativas.
Sob o aspecto moral, não vejo imoralidade em se tornar sócio da JBS. A JBS, assim como muitas outras empresas de capital aberto (Ambev, Cielo, Itaú, BRF, Marfrig, etc.) fizeram Lobby e foram beneficiadas por regulações ou ações governamentais diretas (BNDES, FI-FGTS, etc.). Pelo menos a JBS expôs boa parte da política na delação e enfraqueceu a autoridade do governo. Vejo imoralidade na compra de títulos do tesouro, porque o governo só tem como pagar fazendo mais dívida (ponzi) ou roubando o povo por meio de impostos.

Eu gosto de ser contrarian, ou seja, investir no sentido contrário do mercado e da sabedoria convencional sempre que observar uma distorção de valores. Espero que a JBS seja mais um case que eu consiga realizar uma avaliação correta da situação. Mesmo assim, é importante lembrar que a JBS tem um risco judicial maior do que as outras empresas, portanto deve-se balancear esse risco por meio da diversificação. Nunca colocar todos os ovos na mesma cesta.

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