Há alguns dias atrás o Aportador Financeiro comentou sobre o Tail Hedge Portfólio no post Mévio - Operação de Risco Ilimitado e citou um post do Investidor de Risco que eu não encontrei. Basicamente, Tail Hedge é uma proteção contra eventos muito improváveis, mas que podem dilapidar rapidamente o patrimônio do investidor.
Da mesma forma que o Mévio acreditava que seria muito improvável capotar o carro dirigindo embriagado, também é possível que o investidor perca muito dinheiro com a ocorrência de eventos muito improváveis, também conhecidos como Cisnes Negros.
O primeiro Hedge contra eventos improváveis é a diversificação. Darei dois exemplos hipotéticos:
Exemplo 1: O investidor Fulano analisou os FIIs listados em bolsa e concluiu que o PQDP11 é o melhor FII da Bovespa, então o investidor Fulano resolveu alocar todo o seu patrimônio em PQDP11. Fulano estava muito contente com os rendimentos mensais e valorização das cotas, até que em uma noite de domingo um meteoro caiu no Shopping e destruiu quase tudo. As cotas abriram na segunda-feira em queda de 90% e Fulano perdeu 90% do seu patrimônio.
Exemplo 2: O trader Zé analisou o gráfico da GOLL4 e achou que a tendência estava muito forte e resolveu entrar comprado em um trade alavancado pela conta margem da corretora. Infelizmente, enquanto o pregão estava fechado um avião caiu e foi constatada falha no plano de manutenção. A ação abriu caindo 50% e Zé perdeu tudo e ainda ficou devendo para a corretora.
Os dois exemplos foram bizarros, mas esse tipo de evento acontece. Quando a Petrobras achou o pré-sal muitos vendidos na ação perderam muito, quando o avião da Gol caiu na Amazônia a ação despencou no dia seguinte. Esse tipo de evento ocorreu no passado e continuará a ocorrer.
O segundo Hedge contra eventos improváveis é o financeiro. Ele pode ser feito pela aquisição ou venda de derivativos ou pela aquisição ou venda de ativos opostos.
Um exemplo de Hedge financeiro com ativos é o seguinte:
Um determinado investidor acha que a moeda brasileira irá desvalorizar e quer proteger parte de seus investimentos dessa desvalorização, por isso monta uma posição no ETF IVVB11 que replica o índice S&P500. Como o IVVB11 é um ativo dolarizado, esse investidor terá um ganho em reais caso a sua projeção se confirme.
O Hedge com ativos é bem mais simples e também mais seguro caso a sua projeção não se confirme, mas, geralmente ele não cobre totalmente a possível perda. No exemplo acima, por exemplo, provavelmente o patrimônio desse investidor em dólares ainda estaria menor, porque ele só protegeu uma parte por meio do IVVB11, e como o IVVB11 replica o S&P500, esse investidor também poderia ter um perda caso o S&P500 desvalorizasse.
O número de possibilidades de Hedges com ativos é quase infinito. Mais um exemplo:
João é proprietário de uma empresa de transporte de cargas. Sempre que a Petrobras aumenta o preço do Diesel ele diminui sua margem de lucro. Sabendo que, pela nova política de preços, a Petrobras pretende aumentar os preços dos combustíveis sempre que os preços do petróleo subirem, João decide comprar ações da Exxon Mobil nos EUA, porque os lucros da Exxon aumentam exponencialmente com a alta dos preços do petróleo.
O outro tipo de Hedge financeiro é o com derivativos. Deve-se tomar muito cuidado com esse Hedge, porque os ganhos e perdas com derivativos ocorrem muito rapidamente, portanto deve-se sempre operar na quantidade certa.
O Hedge com derivativos sempre vai custar caro quando ele não é utilizado. As duas formas principais de proteger a carteira usando derivativos são comprando PUTs (opções de venda) bem Out The Money (opções de centavos) e utilizando o mercado futuro.
Nos Estados Unidos é bem mais comum o Hedge utilizando-se de PUTs, como aqui o mercado é menos líquido e menos ações têm opções de vendas líquidas, só dá para desenvolver essa estratégia nas ações mais negociadas. A ideia seria sempre estar comprado em uma PUT de centavos e, caso o mercado caísse, seria possível vender suas ações pelo preço contratado na PUT.
Exemplo: VALE5 está cotada em 30 reais e Luís cobriu toda a sua posição nessa ação com PUTs com preço de Strike em 24 reais e pagou 15 centavos por cada opção. Antes do vencimento das opções ocorre uma grande crise na China e a VALE5 cai para 15 reais, então Luís resolve exercer sua posição e vende todas as suas VALE5 por 24 reais.
Deu para perceber que essa proteção também tem riscos, se a cotação da ação nunca caísse, Luís perderia dinheiro sempre que as opções vencessem e ele tivesse que comprar uma nova série para manter a proteção de pé.
No outro tipo de Hedge com derivativos a ideia é ficar comprado em ações e vender uma certa quantidade de contratos futuros de índice que equivaleriam a sua posição em ações.
Exemplo: José tem uma carteira de ações de 68 mil reais e acha que o mercado irá cair nas próximas semanas. Por isso ele vende 5 mini-contratos futuros, que equivalem a 68 mil reais e "protege" sua posição.
O problema dessa operação é que se o mercado de ações subir ele vai perder todo o lucro que teria com a valorização das ações, a menos que as ações dele subam mais que o índice. Por isso, não dá certo ficar sempre hedgeado, além da possibilidade de prejuízo caso o mercado suba o investidor também tem que pagar corretagem e impostos caso tenha lucro.
Eu operei vendido no mercado futuro nesse mês de janeiro e agora estou 0,3% mais pobre por causa disso. O saldo mensal ainda está bem positivo, porque vendi uma quantidade de mini-contratos muito menor do que o que equivaleria à minha carteira, mas mesmo assim é um prejuízo.
Eu recomendo só utilizar os Hedges de diversificação e os Hedges com ativos, porque os Hedges com derivativos se tornam muito caros a não ser que você acerte o movimento do mercado. Só utilize os derivativos para Hedge se não tiver dúvidas sobre o funcionamento deles e se tiver como cobrir as possíveis perdas.
Abraços!
Olá Barbarossa, obrigado pela citação.
ResponderExcluirParabéns pelo artigo, é sempre complicado você saber a hora exata de montar um hedge da carteira. Imagina quem montou uma posição comprando put da VALE5 antes do desastre de Mariana. Em (05/11/2015) a ação valia cerca R$ 15,00 e no dia do vencimento das opções (21/12/2015) a ação valia R$ 9,70.
O interessante é calcular os custos e utilizar um capital alocado a risco. Eu prentendo alocar 0,1% da carteira em alguns momentos para me posicionar contra o consenso do mercado de outros possíveis "cisnes negros" (por exemplo: Brexit, Eleição do Trump, etc..)
O artigo do Investidor de Risco sobre gerenciamento de riscos na carteira de FIIs é http://investidorderisco.blogspot.com.br/2017/01/gestao-da-carteira-de-fundos.html
Grande Abraço.
Obrigado, Aportador. Realmente, não dá para tentar hedgear sempre ou o custo será muito alto, também acho que pode ser válido tentar fazer isso nesses momentos que você citou.
ExcluirVou ler o artigo. Abraços!
Amigos,
ExcluirEssa operação eu faço uma vez por ano. Sempre no final do mês de abril, para pegar "a onda do Sell in May". Compro PUTs de ação bem esticada. Gasto r$100,00 em cada operação e tem dado resultado.
Uma pena que o mercado de opções no Brasil é ridículo. Apenas Vale e Petr tem liquidez. De vem em quando, Bbas e itub. Depende do momento.
Abs,
50segundos
PS: estou analisando uma operação neste ano. Caso comece a esboçar um cisne negro mundial. Vamos ver.
Eu utilizo em opcoes de compra, emeplo: quero comprar bbas e weg nesse mes, porem decido aportar tudo em weg e para se proteger de uma alta compro opcoes de bbas para garatir que vou conseguilas comprar no proximo aporte... Tambem e possivel rolar pra frente os edges
ResponderExcluirSalve, Anon! Também dá para considerar essa operação um Hedge, uma vez que você não tem a ação e compra a call para se proteger de uma possível alta antes do aporte.
ExcluirAbraços!
Vi que incluiu o Antípoda na sua lista de blogs, vou inclui-lo também na minha. Obrigado e boa semana!
ResponderExcluirParabéns pelo blog, Maurício! Está muito bom.
ExcluirAbraços!